UM FOTÓGRAFO ÀS TERÇAS – Constantine Manos

“Try not to take pictures which simply show what something looks like. By the way you put the elements of an image together in a frame show us something we have never seen before and will never see again.

Constantine Manos, filho de emigrantes gregos – como o seu nome deixa adivinhar, nasceu no estado da Carolina do Sul, Estados Unidos, no ano de 1934. Começou a fotografar com 13 anos – idade com que ingressou no clube de fotografia da escola que frequentava. Licenciou-se na Universidade da Carolina do Sul (em 1955) com um major em literatura inglesa. Fez o serviço militar, após o qual se mudou para Nova Iorque. Trabalhou para a Orquestra Sinfónica de Boston e diversas publicações.

No período compreendido em 1961 e 1965 regressa às suas origens e vive na Grécia, dedicando-se a fotografar o seu povo, os seus costumes e a sua paisagem.

Regressa aos Estados Unidos. Abraça a cor e é aqui que encontra o seu “elemento”. Fotografa a cultura e modo de vida americanos e fa-lo com cores vívidas. As imagens do seu volume “America Color” foram captadas na sua totalidade em Kodachrome 64; no seu “segundo take”, “America Color 2” já coabitam imagens captadas em filme e suporte digital. Tem-se mantido fiel à Leica e a summicron 28 tem sido a sua lente de eleição.

A fotografia de Manos enquadra-se claramente na categoria de fotografia de rua. Esta é, porém, uma expressão que não aprecia: prefere chamar-lhe “photography in the public domain”. Manos não se interessa por imagens que não incluam a figura humana. E dá uma maravilhosa explicação para tal: “Shooting people is more beautiful, because it is more difficult.”

A dificuldade é ainda maior por Manos ser tímido e não gostar de dar nas vistas quando fotografa. Para mais, fotografar com uma lente de 28 mm implica proximidade … Manos partilha três conselhos para se aproximar sem se fazer notar: “Don’t move abruptly, a hunter doesn’t jerk around and is smooth when hunting.”, “Don’t make eye contact with your subjects (and they won’t notice you).” e “Pretend like you’re photographing something behind somebody.”

Inevitavelmente, surgem situações nas quais é “apanhado”. Nessas, se alguém lhe pergunta o que está a fazer, responde “I’m just a photographer having a nice time.”

Um aspecto notável na fotografia de Manos é sua complexidade. Uma complexidade que nunca deixa de ter “leitura” e não se torna confusa. Este “flirt” com os limites do caos fascina-me. E é uma complexidade que se desobra em duas dimensões.

Temos, por um lado, uma complexidade “física”. Esta manifesta-se na profusão de elementos que compõem a imagem. Pessoas, objectos, animais, coisas. Cores. Formas. Planos.

Por outro, complexidade “emocional”. Há um elemento de mistério, de intriga no que se passa. Para tal contribui a escolha judiciosa por parte de Manos do que é mostrado. Mas, não menos importante, do que fica por mostrar. São imagens que questionam. Quem é aquela gente? Qual a relação entre as pessoas que surgem na imagem? O que sentem? O que fazem aí?

Este elemento de mistério é reforçado por outro dos princípios de Manos: “Never take a picture of anyone looking at the camera, or else the photo is destroyed.” Não concordo com Manos, mas percebo-o. Creio ser algo que faz sentido na sua visão fotográfica do mundo, mas que não pode ser generalizado como princípio absoluto. Porém, na senda do aprofundamento do “mistério”, esta é uma estratégia eficaz e que contribui para a referida complexidade emocional das imagens de Manos.

Um dos olhares fotográficos mais frescos e inspirados do nosso tempo.

manos_01Crete. Chania. 1967. Man reading newspaper. "A Greek Portfolio" p.87manos_03USA. New York City. 2004. Times Square.manos_05manos_06manos_07USA. Fort Lauderdale, Florida.  2000.USA. Daytona Beach, Florida. 1999.manos_10manos_11USA. New York City. 2005. Times Square.


Os fotógrafos desta rubrica, estão disponíveis, após a sua publicação, em: Um fotógrafo às terças, com acesso ao arquivo por  nome de autor. Curadoria de João Jarego.

#umfotografoastercas


 

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